Desde o final da década passada, os estudos se voltam para uma doença da qual todos já ouviram falar. Alguns têm familiares deprimidos e outros sempre conhecem alguém que já teve ou ainda tem a depressão.
Há uma preocupante incidência em 20% da população, o que significa que uma em cada cinco pessoas estão tendo ou virão a ter um quadro depressivo. Com essa elevada prevalência, ela se tornou uma preocupação médica, social e macro econômica. A depressão também é a terceira causa de morte em adultos e a segunda em adultos jovens e adolescentes.
É um problema preocupante que a torna a “Doença do Século”. Mas assim já era conhecida desde o final da segunda metade do século passado.
Existe uma forma mais grave da depressão, a dos ‘Espectros Bipolares’, onde a depressão é um dos lados do binômio e a mania é o outro polo. É uma doença que faz a pessoa perder o contato com a realidade (o delírio da psicose), o risco de suicídio aumenta e o tratamento é mais difícil e inclui a adição de lítio aos esquemas mais convencionais, mas em doses elevadas face à gravidade do quadro.
Quando aconteceA causa da depressão tem várias vertentes. Ela é hoje inquestionavelmente genética do tipo poligênico. Causas psicológicas intrapsíquicas aliadas às causas sociais interpessoais, além de fatores sócio-econômicos e dos profissionais, somam-se a uma genética predisponente, que, juntamente com o gatilho dos fatores existenciais, servem para desencadear um quadro depressivo.
Por outro lado, a depressão ocorre também associada a diferentes doenças clínicas das mais diferentes especialidades. As principais ligações fazem-se com a síndrome metabólica, que inclui o diabetes e a hipertensão. O adenocarcinoma da cabeça do pâncreas ocorre quase exclusivamente em pessoas com depressão ou que estiveram em estados depressivos.
Quadros neurológicos como a doença e Parkinson e a epilepsia fazem parte da comorbidade da depressão. Muitas outras doenças endócrinas, entre as quais as alterações tireoidianas, completam a lista de doenças onde a depressão se manifesta. Também pode ser provocada pelo uso e abuso de alguns medicamentos e drogas ilícitas.
SintomasDois sintomas são básicos para o diagnóstico: o humor depressivo e a perda da alegria de viver. Outros sintomas completam o quadro: ganho ou perda de apetite e, conseqüentemente, do peso, alterações do sono, fadiga diurna e lentificação psicomotora. As alterações na área psicológica incluem a perda da auto-estima, perda da concentração, pensamentos de pessimismo e de culpa e até a ideação da morte, que pode levar ao suicídio.
TratamentoNo caso da depressão, a individualização do quadro de cada paciente permite elaborar uma melhor estratégia personalizada para a terapêutica.
Duas informações são básicas para o médico e para o paciente:
- Usar sempre a medicação na dose exata conforme cada produto, subdoses não funcionam e iludem o médico e o paciente, agravam o quadro e seus riscos e fazem o paciente duvidar da possibilidade de ficar realmente livre do quadro depressivo.
- Todos os antidepressivos levam de 14 a 21 dias para começarem a agir, mas desde o primeiro dia podem apresentar efeitos colaterais; portanto, insista no medicamento escolhido com critério e não espere melhoras antes de três semanas.
Devemos deixar claro ao paciente que se trata de uma doença grave e que fora da Medicina não existe saída válida. Fé e crença religiosa são reforços do tratamento e da alegria de viver e de ter esperanças no futuro, mas não conduzem por si só à recuperação. As intervenções de fundo místico atrapalham e só retardam a recuperação, freqüentemente fazem o paciente abandonar o tratamento médico, agravam a doença e aumentam o risco de complicações graves.
Os antigos antidepressivos do tipo IMAO e tricíclicos não mais se usam rotineiramente depois do advento da fluoxetina (o histórico Prozac), a primeira de uma nova série de medicamentos que atuam na sinapse nervosa e inibem a recaptação seletiva de alguns neurotransmissores, aumentando a sua disponibilidade. São os medicamentos que mais eficazmente controlam a depressão.
Uma boa convergência e a relação entre o médico e o paciente bem estabelecida continuam sendo a melhor saída para a maior parte dos quadros clínicos em Medicina e, inclusive, da depressão.
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